*Por Adriana Cavalcanti
O intuito deste artigo é ativar ideias e movimentos na direção da retomada, afinal é o que todos nós, no mundo inteiro, esperamos ansiosamente, seja na quarentena ou nas linhas de frente, de todas as indústrias sem exceção, desde que o mundo, e nossas vidas, foram submetidos a mudanças e incertezas sem precedentes.
Interessante notar, que em todos os Conselhos e Comitês dos quais participo – e que neste momento estão sendo muito acionados -, os exemplos de gestão de risco e crise vindos da indústria do turismo, são frequentemente citados, justamente por ser um setor tão exposto aos diferentes tipos de risco, além dos financeiros e operacionais de cada negócio, mas também aos sanitários, meteorológicos, desastres naturais, político-sociais, cibernéticos, etc.
Não é à toa que o plano de contingência de algumas companhias aéreas é tão completo e usado como modelo em várias outras indústrias.
Ou seja, crise não é novidade para este setor que tem como característica principal a resiliência. Porém, numa crise que teve início, mas que ainda não sabemos se está no meio ou caminhando para um fim – ao contrário de outras crises, como a de 2008 – que foi essencialmente financeira, esta é uma crise de pessoas.
Até o momento, com base em números oficiais, foram mais de 4 milhões de pessoas infectadas pelo Covid-19 e cerca de 280.000 mortes decorrentes no mundo.
Estes números se juntam às estatísticas das mais diversas pandemias que assolaram a humanidade ao longo de sua história, e que mataram mais do que as duas Grandes Guerras juntas. Isto é um fato que mais uma vez mostrou a capacidade de adaptação e força motriz do ser humano para a reconstrução.
Enquanto nas guerras a pessoa que está ao seu lado é considerada como aliada, numa pandemia, ela é uma ameaça, e certamente por isso, a indústria de viagens foi tão fortemente atingida.
Não vou discorrer sobre os números catastróficos que a indústria tem enfrentado, nem se a curva de recuperação econômica será em “U” ou em “V”, e tão pouco elencar os pacotes ou medidas horizontais ou verticais adotadas pelos governos, mas cabe dizer que, apesar do Brasil ter tomado algumas iniciativas importantes, uma linha de crédito específica para o turismo (penso aqui nas pequenas e médias agências assim como nas companhias aéreas) ainda se faz necessária. Aguardemos com esperança.
Mas enquanto isso, sabendo que estamos diante de uma enorme falta de liquidez de curto prazo e uma ameaça de longo prazo ao seu modelo de negócios, a indústria do turismo como um todo, precisa de assistência, para seguir gerando confiança em seu consumidor e manter-se produzindo.
Existem diversos desafios a serem superados até se colocar a “cabeça fora d´água”, sobretudo num cenário tão dinâmico, onde me arrisco a dizer que o maior deles, diz respeito aos protocolos de segurança sanitária e cuidados com o viajante, que países e organizações adotarão desde já, uns mais restritivos que outros, considerando o distanciamento social e sem saber, ao certo, se teremos algum tipo de vacina aprovada para uso no curto prazo.
Algumas empresas e destinos já adotaram medidas que podem inclusive tornarem-se normas oficiais : uma companhia aérea que já está realizando o teste rápido de Covid-19 em seus passageiros antes do embarque, outras que simplificaram ao máximo o seu serviço de bordo afim de restringir o contato entre tripulação e viajante, aeroportos que criaram na chegada uma estrutura de isolamento de pessoas que aguardam os resultados dos exames para serem liberados, e alguns países asiáticos que criaram certificações de limpeza e higiene para hotéis, restaurantes, transportes, etc.
Diante da falta de clareza no longo prazo e da variável tempo, enxergar oportunidades ao longo do caminho também é fundamental para mitigar impactos nesta busca por sobrevivência e posicionamento para o futuro.
Além da ajuda governamental, a iniciativa privada também tem o seu papel a cumprir, apoiando a indústria de viagens na busca e promoção de inovação, e por que não de sua própria reinvenção, como por exemplo, através de cursos e treinamentos, comitês ou grupos de trabalho de fomento a ideias e iniciativas, campanhas institucionais para incentivar a demanda, etc.
Numa indústria tão diversa como a do turismo, a colaboração pode ser o grande diferencial e um potente catalisador e acelerador destas inovações.
É muito importante gerar estabilidade diante destas incertezas, mas não se deixar paralisar: assim como andar de bicicleta, manter-se em movimento constante é a chave para não cair.
Cuidar de seus ativos também, e nessa indústria, os maiores ativos são com certeza, seus colaboradores e seus clientes! E são justamente as pessoas que precisam de maior atenção nesse momento.
Aproveito para deixar aqui o reconhecimento, a todos os profissionais do turismo, agentes de viagens, de operadoras, dos hotéis , das companhias aéreas, entre tantos, que mesmo no “olho do furacão”, não deixaram de atender os seus clientes que queriam voltar para casa ou adiar suas viagens, mobilizaram apartamentos para transformá-los em unidades hospitalares de pronto-atendimento em várias cidades do mundo, e transportaram médicos e material hospitalar para os mais variados locais do planeta. Pessoas cuidando de pessoas.
Muito obrigada por este exemplo de responsabilidade social, solidariedade e colaboração em meio ao caos. É exatamente disso que o mundo precisa para voltar a sonhar… e viajar.
*Adriana Cavalcanti é presidente do Conselho Consultivo da WTM Latin America
*números atualizados em 11 de Maio de 2020
As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.