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A Inovação na Estratégia de Turismo está dentro de nós e é ancestral

inovação no turismo

* Por Carolina Stolf, Coordenadora de Mercados Internacionais da Embratur


A inovação não é apenas uma ferramenta externa que adquirimos, mas algo intrínseco que reside dentro de nós. Essa perspectiva é fundamental para compreender como podemos transformar a maneira de desenvolver estratégias no setor de turismo. A observação, a curiosidade e a valorização da diversidade de opiniões de pessoas com diferentes backgrounds são chaves para essa transformação, permitindo que nosso cérebro funcione como um algoritmo capaz de conectar produtos ou destinos turísticos a turistas potenciais a partir dessa transformação de dados em informações poderosas.

Parece loucura? Mas vou contar melhor e como isso parte de metodologias aplicáveis. Durante minha trajetória profissional, tanto na Accor quanto na Embratur, percebi que a base para construir uma estratégia eficaz é similar a um algoritmo. A essência está em como usamos os dados ao nosso dispor para gerar informação útil e transformá-la em ações estratégicas.

Os dados podem vir de diversas fontes: interações com empreendimentos turísticos para entender o perfil dos turistas; estudos e relatórios detalhados sobre tendências e comportamentos de mercado; portais de dados sobre fluxos turísticos; e análises de comportamento de mercados específicos, tanto do seu produto ou destino quanto da concorrência. Mas o dado mais poderoso vêm da interação e trocas com grupos diversos de pessoas e de profissionais – incluindo homens e mulheres de diferentes etnias, LGBTQ+,  do setor público e privado; pessoas com diferentes vivências humanas. Essa diversidade de opiniões e experiências enriquece com múltiplos olhares no desenvolvimento do seu algoritmo para que ele inove.

Na Accor, eu costumava ter como premissa que construir uma estratégia como pintar um quadro: uma obra-prima em que cada informação absorvida se transformava em uma cor de tinta e o pincel era a conexão que tinha como objetivo de combinar todas essas cores harmoniosamente, interligando-os para essa construção. Na Embratur, comecei a chamar esse processo de quebra-cabeça racional, onde os dados são as peças que quando convertidos em uma sequência analítica que leva ao momento ‘eureka!’, culmina em uma estratégia coesa, permitindo que o nosso raciocínio faça o algoritmo funcionar de forma eficaz.

O ponto de partida para qualquer estratégia de promoção e comercialização no turismo é identificar o problema a ser resolvido e definir objetivos claros. A seguir, é crucial reunir e organizar os dados como um quebra-cabeça, onde cada peça representa uma variável essencial a ser analisada para desenvolver a estratégia final. A peça da análise do mercado emissor envolve a avaliação do mercado em relação ao produto turístico, incluindo a entrada de turistas e o posicionamento competitivo. A análise competitiva identifica oportunidades através do estudo dos concorrentes e do conhecimento do seu market share, são outras peças que devem se encaixar. Compreender detalhadamente o perfil do turista alvo permite direcionar estratégias de marketing mais precisas. Considerando ainda as peças da sazonalidade e o ciclo de comercialização para otimizar a abordagem. A escolha das ferramentas e parceiros certos, assim como a definição de KPIs de mensuração, são peças finais essenciais para encaixar nesse quebra-cabeça. E ainda colocá-los em um funil para que o “algoritmo” funcione com objetivo de conversão.

Para ilustrar, consideremos o caso da parceria da Embratur com o grupo de turismo Viajes El Corte Inglés no mercado espanhol. Este caso exemplifica como uma estratégia bem estruturada pode ser comparada a um algoritmo. A análise do mercado emissor e da concorrência revelou que destinos como México, Colômbia e Peru eram fortes competidores para o Brasil. Com base nisso, foram definidos objetivos específicos: aumentar o market share com foco em destinos consolidados de Sol & Praia e diversificação de produtos através da promoção de experiências de natureza e cultura, incluindo o turismo gastronômico. A campanha cooperada com a Viajes El Corte Inglés foi estruturada com base em dados concretos e envolveu múltiplos canais de promoção, como mídia out of home, redes sociais, metaverso nas agências de viagens e uma semana gastronômica com QR code que levava a uma página de compra de pacote de viagens aos destinos brasileiros da origem do prato apresentado. A campanha resultou em um aumento significativo nas buscas pelo Brasil e no número de turistas espanhóis.

Mas explorando além da parte técnica, o meu ponto aqui é reforçar que a diversidade e a curiosidade são ferramentas chaves e ancestrais para a inovação. Na estratégia de turismo, é esse inconformismo de ir além que nos leva a explorar dados de maneiras novas, descobrir tendências e executar ações de forma mais criativa. A curiosidade em buscar observar, ter escuta ativa em diálogos que provoquem com opiniões divergentes, são os recursos que mais ativam  insights valiosos e que podem ser a peça que faltava do quebra cabeça da sua estratégia. A observação do seu entorno, o olhar para o outro e a capacidade de utilizar como recurso para evolução são processos ancestrais desde a era pré-histórica utilizados para estratégias de sobrevivência. São essas capacidades humanas que permitem que nosso “algoritmo interno” funcione de maneira inovadora, e de que nada adiantaria ter inúmeras ferramentas de tecnologia se não trabalharmos a “tecnologia ancestral” intrínseca em nós. A diversidade, como disse, adiciona um papel crucial na inovação. Ao valorizar diferentes perspectivas culturais, sociais e econômicas, podemos desenvolver estratégias mais inclusivas e atraentes. É essa diversidade de pessoas que nos fornece um repertório mais amplo de ideias, possibilitando a criação de raciocínios mais ricos ao captar o seu entorno diverso e somar  ao seu “algoritmo interno”.

A inovação em estratégias de turismo não depende apenas de ferramentas externas, mas da capacidade de observar, coletar dados, transformá-los em informações valiosas e aplicá-las. Valorizando a curiosidade e a diversidade, podemos usar nosso “algoritmo interno” para conectar destinos turísticos aos turistas em potencial, criando experiências memoráveis e promovendo o crescimento sustentável do setor.

Dessa forma, o quebra cabeça de uma estratégia de captação de turistas internacionais pode ser comparada a um algoritmo, funcionando em múltiplas dimensões. No entanto, o elemento mais poderoso e diferenciador dessa estratégia reside dentro de você, e essa capacidade é ancestral!

Carolina Stolf

Profissional com 18 anos de experiência no mercado de turismo e cofundadora da MUST – Mulheres do Turismo. Especialista em liderança focada no desenvolvimento e estruturação de equipes, processos e estratégias comerciais de alta performance. Atuou por 17 anos no grupo Accor e atualmente integra a Embratur – Agência Brasileira de Promoção Internacional do  como coordenadora de gestão estratégica.

As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.

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