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O turismo 60+ e seu protagonismo na indústria do turismo

* Por Lilian Azevedo @umasenhoraviagem e Sylvia Yano @sentidosdoviajar, produtoras do Podcast
Viajantes Bem Vividas @viajantesbemvividas

O envelhecimento populacional é uma realidade mundial. Segundo projeções da Divisão de População da ONU, em 2022 os idosos (60+) representavam 13,9% do total da população mundial, tendendo a crescer ano a ano. A América Latina apresenta o mais rápido envelhecimento populacional. Já no Brasil a geração prateada, que no mesmo ano, representava 14% da população, cerca de 28,5 milhões de pessoas, tem previsão de, em 2050, chegar a 30% da população brasileira, quando haverá mais idosos do que a população até 14 anos. Estima-se que seremos o quinto país mais idoso do mundo!

Contrariamente à imagem que em geral persiste na nossa sociedade brasileira, a população prateada está cada vez mais ativa. 62% dos entrevistados no estudo Tsunami60+ , realizado no Brasil, relataram estar bem, física e mentalmente; 59% dos entrevistados entre 55 e 64 anos afirmam ser ativos. Eles estão usando tecnologia, passeando, viajando, namorando, casando e recasando, trabalhando, empreendendo,
estudando, praticando esportes, aventurando-se…, um verdadeiro envelhecimento ativo.

Além disso, o mesmo estudo relata que a 6economia prateada movimenta cerca de R$1,6 tri/ano, representando 20% do consumo total do país.

É então, incontestável que a população longeva está em crescimento, que é mais ativa, procura atividades de entretenimento, incluindo viagens, e é importante consumidora.

Será este cenário motivo de preocupação ou de comemoração. Um pouco dos dois. Na verdade, todos os setores da sociedade precisam e devem se preparar para se relacionar e atender as demandas deste público. Um amplo mercado se abre para que se ofereça à geração prateada, serviços, trabalhos, produtos, condições e oportunidades para um envelhecimento saudável, ativo e feliz.

O que falta então para uma maior valorização do turismo 60+?

O mesmo estudo Tsunami 60+, já mencionado, identificou que “viajar é o sonho de todos – independentemente da faixa etária e classe social. Para 79% dos longevos ouvidos, a viagem simboliza o imaginário da aposentadoria”. No entanto, o estudo registrou uma demanda de somente 36% para viagens. Qual seria a razão de uma demanda tão baixa, frente ao grande desejo?

Parece-nos que persiste o entendimento social, sobretudo pelas instituições do turismo, que os idosos gostam de ficar em casa e quando em raras ocasiões, viajando com suas famílias ou grupo de amigos, preferem destinos calmos, como estâncias de águas minerais e viagens religiosas. Não que estes destinos também encontrem interessados, mas hoje, pela própria diversidade da geração prateada, os desejos são muito variados.

Talvez este entendimento pautado no “antigo idoso” e não do “novo idoso” tenha levado o trade turístico a não perceber, primeiro, que a população sênior está crescendo e que em curtíssimo tempo, os idosos representarão grande parte do país, hoje já com significante participação no consumo nacional, como demonstrado acima.

Segundo, talvez também não tenha se atentado à transformação social e aos estudos que mostram uma população madura, na sua maioria, ativa, com muitos desejos e usando seu tempo de vida e saúde para realizar seus sonhos, reinventar-se e buscar atividades de entretenimento, dentre elas, as viagens. Há necessidade de se atualizar o olhar para o envelhecimento.

Desafios e oportunidades

É importante refletir que a geração prateada, 55 a 90+ não é uma categoria homogênea. É uma população diversa e, portanto tem sonhos, desejos, gostos, capacidades, possibilidades, estilos, interesses e necessidades variadas.

O público sênior compreende pessoas com ótimo estado de saúde e outras com mobilidade reduzida, com deficiências e limitações. É uma população com diferentes possibilidades financeiras, níveis culturais e sociais, variados arranjos de relacionamento, moram sozinhas, com parentes ou amigos. É fundamental conhecer e segmentar o público sênior para entender as demandas e anseios, quanto ao turismo de forma que todos estejam incluídos. Assim como é um desafio é também enorme oportunidade, pois
vislumbra-se a gama de opções que o trade turístico pode desenvolver e oferecer aos longevos.

Por mais que demonstrado nos estudos aqui citados que a geração prateada tem, em geral, maior capacidade monetária, poder de consumo, mais tempo livre, constituindo-se excelente público para os destinos turísticos, ainda estamos vivendo a invisibilidade dos longevos, conforme 7expresso por 54% dos pesquisados, com mais de 55 anos, que não se sentem representados pela mídia e nem vistos pelas marcas e empresas, nas campanhas de marketing, incluindo os destinos. Esta é outra grande oportunidade para o setor, dar visibilidade e identificação do idoso com as atrações e destinos,
promovendo-os com fotos de longevos reais, vivenciando as diferentes experiências.

O contato com a natureza, o convívio, as amizades, o relacionamento intergeracional, novos aprendizados e experiências estão sendo aclamados pelos estudiosos, como caminho para a felicidade, saúde e longevidade. Alguns autores estão defendendo que o 8“Turismo é a industria da Felicidade”. Mais uma vez, o turismo é a chave para todas essas oportunidades e pode ser um excelente aliado no envelhecimento ativo, assim como para a saúde física e emocional dos longevos.

Concluindo, é mister que as práticas de turismo estejam alinhadas ao novo olhar sobre o envelhecimento, destruindo estereótipos e desmitificando que idosos só gostam de atividades calminhas, novela, excursão, que não sabem mexer no celular, não sabem ver nada no computador. É fundamental que as potencialidades sejam valorizadas, que se conheça e segmente esta população, criando produtos que atendam às diferentes necessidades e características para que haja, de fato, respeito à diversidade.

É preciso que se adapte atrações, hospedagens, comunicação, dando acessibilidade e segurança, conforme às necessidades da geração prateada.

É fundamental que se promovam produtos com imagens de idosos reais, nos destinos, criando identificação dos longevos com o produto.

É importante que se crie equipes com representação intergeracional, bem como se capacite pessoas para atender às peculiaridades do público sênior.

O trade turístico tem nas mãos, momento estratégico para expandir e consolidar seu negócio, adotando, valorizando e construindo o turismo 60+.

“Cada vez mais, a compreensão do universo dos negócios prateados poderá definir o sucesso ou o fracasso dos empreendimentos do século XXI”. FDC – Longevidade, 2020.

6 Economia prateada: refere-se à participação da geração prateada, ou seja, dos idosos com idade acima de 55/60 anos, no consumo geral do país, seja em alimentação, moradia, compras em geral, atividades de lazer, recreação, viagens, dentre outras. O prateado advém da cor dos cabelos provenientes desta faixa etária.

7 Tsunami Prateado 2021

8 LEE ET AL, 2021. Citado pela Dra Carla Furtado, Diretora do Instituto @feliciencia no II Inspira Turismo MS, SEBRAE/MS. Palestra A Felicidade está de Volta, maio,2023.

Nota: Lilian Azevedo(67) e Sylvia Yano(65), depois de aposentadas criaram os blogs, Uma Senhora Viagem e Sentidos do Viajar, respectivamente. Ambas são as produtoras do Podcast Viajantes Bem Vividas, voltado para mulheres, em especial, mulheres 60+. Palestrantes, experientes em viagens no Brasil e no mundo, sensíveis às necessidade da geração prateada, têm por propósito compartilhar suas experiências de viagens, inspirando os longevos a descobrirem o viajar como caminho para o envelhecimento ativo e feliz, assim como, estimular o trade do turismo a adaptar seus produtos voltado para este segmento da população.

As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.


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