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Possíveis impactos do ‘Brexit’ para o turismo

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Todos nós temos opiniões a respeito da decisão tomada pelo Reino Unido de sair da União Europeia, o chamado ‘Brexit’. Não cabe fazer qualquer tipo de julgamento, mas sim debater os possíveis impactos dessa decisão e tentar antever possíveis conflitos.

O ‘Brexit’ pode causar mudanças na atividade turística em nível global? A resposta é: muito provavelmente. Mas não em curto prazo. Por enquanto, nenhuma legislação será modificada devido à vigência do Tratado de Lisboa, acordo que determina um prazo de pelo menos dois anos de transição, contados a partir da declaração de intenção de saída.

Ou seja, os resultados mais palpáveis serão sentidos em alguns anos, quando os acordos que hoje são comuns a todos os países da UE começarem a ser refeitos. O cenário de incerteza permite, entretanto, que sejam feitas apostas em relação a possíveis mudanças, já que muitas dessas regulamentações impactam diretamente a atividade turística.

As conclusões de uma pesquisa1 realizada pela Association of British Travel Agents (ABTA) em parceria com a Deloitte apontam para uma provável diminuição do número de turistas estrangeiros no Reino Unido, uma vez que as demais nações da União Europeia representam o maior mercado emissor para a região.

Uma projeção2 do Euromonitor International revela que 34 milhões de visitantes devem entrar no Reino Unido em 2016, sendo 64% deles provenientes da Europa. Aliada à oferta turística ímpar, a facilidade de entrada e saída entre os países do bloco é um dos principais fatores que contribuem para esse resultado.

Mas uma provável restrição na livre circulação também pode impactar a chegada de viajantes brasileiros que têm uma notada preferência por combinar mais de um país europeu em seus roteiros de férias. E se o Reino Unido impõe regras alfandegárias muito específicas, eles podem seguir para outros destinos.

O turismo de negócios também pode ser afetado, segundo os levantamentos realizados pelo Euromonitor. O instituto aponta que a saída da União Europeia pode resultar em um êxodo de corporações globais instaladas em Londres. Isso deve prejudicar o mercado corporativo que hoje responde por cerca de 20% de visitantes e 30% de gastos anuais na capital.

Impactos financeiros

A desvalorização da libra em relação ao dólar norte-americano pode tornar o destino mais atrativo para viajantes globais, mas terá como consequência a diminuição do fluxo de viajantes do Reino Unido para o exterior. A valorização promove o movimento contrário.

Independente da cotação da moeda, os possíveis aumentos nos custos dos pacotes – causados pela eventual entrada de novos impostos e taxas que levariam a uma reação em cadeia de subida de preços entre fornecedores e intermediadores de serviços – também podem fazer com que o turista desvie os olhos dessa região. Ou seja, agências que têm esses destinos como tops de vendas devem ficar atentas a essa possível mudança de cenário.

Outra consequência financeira apontada é a possibilidade de aumento das tarifas aéreas. “Não é minha função dizer às pessoas como votar, mas é muito possível que o Brexit resulte em um ambiente de aviação mais restritiva, o que significaria menos voos entre o Reino Unido e a Europa e, portanto, menos concorrência entre as companhias aéreas e tarifas mais elevadas”, disse Stelios Haji-Ioannou, fundador da easyJet, antes da divulgação do resultado do referendo.

Em resumo: tudo indica que o mundo pós-Brexit fará com que as viagens para o Reino Unido sejam mais caras e burocráticas. Mas vamos combinar que o mix de belezas naturais, culturais e a história única desses países sempre valerão o investimento.

A íntegra das pesquisas pode ser conferida:

1. ABTA/Deloitte: https://c0e31a7ad92e875f8eaa-5facf23e658215b1771a91c2df41e9fe.ssl.cf3.rackcdn.com/general/ABTA_BREXIT_online.pdf

2. Euromonitor International: http://blog.euromonitor.com/2016/02/in-or-out-potential-impact-of-brexit-on-uk-travel-and-tourism.html

Camila Lucchesi, editora do Brasilturis Jornal

Formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), tem experiência nas áreas de produção e edição de conteúdo jornalístico desde 1997. Atua em publicações e empresas do setor de turismo desde 2005.

As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.

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