*Por Solange Cristina – Especialista em Afroturismo, Historiadora, CEO da Rota da Liberdade – Programa Cultural e Turístico de Mapeamento da Diáspora Africana na RM Vale do Paraíba – SP
As interfaces do Afroturismo e seu desenvolvimento no Brasil e no exterior.
Em 2018 o termo Afroturismo passou a ser utilizado por diversos empresários brasileiros para qualificar suas atividades, neste caso a comercialização de “roteiros afrocentrados”, significando a oferta de roteiros nos quais as experiências turísticas giravam em torno da Cultura Afrodiaspórica Brasileira e também a oferta de experiências em Países do Continente Africano.
O Afroturismo é interseccional, podendo ser realizado em ambientes urbanos e rurais e com diferentes olhares sobre a História da África e da Cultura Afrobrasileira, podendo ter caráter pedagógico, artístico, cultural, científico, rural, em comunidades, gastronômico. A prova disto são as diversas empresas voltadas para o segmento espalhadas pelo Brasil.
Demarcamos o ano de 2018 pois ele representa a emergência do Afroturismo, mas esta modalidade turística não nasceu neste ano. Em 2006 foi lançado na cidade de Sorocaba o Programa Cultural e Turístico Rota da Liberdade, que consiste em 8 roteiros em 18 cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba.
O lançamento foi resultado da parceria entre a Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo e a empresária Solange Barbosa, sendo que a partir deste momento a Rota da Liberdade passou a integrar o rol de roteiros temáticos daquela secretaria. Neste mesmo ano o governo da Bahia lançava seu programa de Turismo Étnico com recorte Afro. Também neste contexto, um grupo de Historiadores de MG começou a realizar roteiros educativos tendo a Cultura Negra como foco em cidades como Ouro Preto, Tiradentes e Mariana.
O Turismo Étnico neste caso estava compreendido como um processo de Segmentação do Turismo, programa criado pelo Ministério do Turismo, onde esta modalidade era reconhecida como Turismo Cultural.
De “Turismo Étnico com recorte Afro”, passamos, a partir de 2018, a utilizar o termo “Afroturismo”, englobando não só as Experiências Afrocentradas, mas também destacando a presença dos profissionais negros comandando as Agências de Viagens, a emergência das Comunidades Quilombolas e Periféricas majoritariamente negras construindo roteiros, além de profissionais de Transporte e Guias Negros atuando na área.
Mas o Afroturismo não é um movimento que se restringe ao Brasil, em 2020 a MMGY Travel Intelligence¹ divulgou os primeiros resultados da primeira fase do relatório The Black Traveler: Insights, , onde em uma análise de cerca de 4.800 viajantes de lazer negros dos EUA e 200 membros da Coalização Nacional de Profissionais de Encontros revelou que os viajantes negros dos EUA foram responsáveis por US$ 109,4 bilhões em gastos com viagens em 2019, sendo identificado neste estudo o interesse destes viajantes por destinos com Diversidade e o receptivo aos Viajantes Negros, com experiências de ligação com as origens africanas destes viajantes.
O ano de 2019 foi eleito por Gana como o “ano do retorno” para marcar os 400 anos da saída dos navios negreiros da Costa Ocidental Africana, justamente onde o país se localiza, que levaram seus ancestrais para as Américas. O país africano foi inundado por viajantes estadunidenses que receberam sua cidadania e participaram de cerimônias de reconexão ancestral, recebendo nomes africanos e conhecendo a cultura de seus ancestrais, tudo isto após realizarem testes de DNA em seu país natal. Com o olhar voltado para os Viajantes Negros Brasileiros², em 2020, a empresa South African Airways viajou com influenciadores negros brasileiros até o país africano para promover o Afroturismo.
Em 2020, o Sebrae MT publica pesquisa sobre tendências para o Turismo Brasileiro, constando entre as tendências o Afroturismo. O Afroturismo também foi pautado por veículos de Comunicação Turistica como o Portal Panrotas, Blog Viajar Verde. Também entrou em discussões em grandes eventos de Turismo como WTM Latin America e ABAV, onde foi apontada uma das grandes características do Afroturismo seja justamente a busca pela Diversidade e também uma Educação antirracista através das viagens turísticas.
[1] Rede Global de Empresas dentro da MMGY Global.
[2] Este termo foi cunhado pela estudante de Turismo da USP Thainá Santos, em seu TCC denominado: O Viajante Afrobrasileiro – enegrecendo o Turismo defendido em 2020.
As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.