O câmbio e a resiliência do turismo

O câmbio e a resiliência do turismo

por Jeanine Pires

Os anos de 2015 e agora, 2016, estão particularmente difíceis para o Brasil, tendo reflexos na economia do continente e nas diversas atividades econômicas. Na indústria de viagens e turismo, podemos afirmar que o câmbio foi uma das variáveis que mais influenciou os fluxos mundiais e também latino-americanos.

As receitas do turismo na América do Sul ficaram praticamente sem alteração entre 2014 e 2015, sendo US$ 25,7 e US$ 25,6 bilhões, respectivamente, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Lembrando que as alterações de volume de gastos podem não significar mais gastos, e sim as diferenças cambiais existentes entre um ano e outro. Já as chegadas, tiveram um aumento de 5,4%, saindo de 29,1 para 30,7 milhões de 2014 para 2015. Temos, portanto, apenas 2,6% do fluxo mundial de viagens.

O fato é que o Brasil deixa de ser um grande “viajador” e “gastador”, diminuindo a atenção dos mercados receptores internacionais e, ao mesmo tempo, reduzindo a oferta de assentos e a acessibilidade do país para a atração de estrangeiros. O número que espelha esse cenário é o déficit da balança do turismo, que saiu de US$ 10,7 bilhões em 2010 para US$ 18,7 bilhões em 2014, e já caiu para US$ 11,5 em 2015, ainda segundo a OMT. Neste ano de 2016, pelo menos até maio, ainda revela uma drástica queda dos gastos dos brasileiros no exterior: -37,7% em relação aos cinco primeiros meses do ano passado.

A fase atual, que pode provocar novidades, é conjunturada por uma combinação do desejo dos brasileiros em viajar ao exterior com a queda do câmbio a partir de julho desse ano. Mesmo diante das incertezas sobre o grau de intervenção do Banco Central, tivemos uma aquecida no mercado de viagens ao exterior exatamente no período de férias. Vamos acompanhando.

Diante do nebuloso cenário, é valioso estarmos atentos também aos diversos fatos do quadro global que, além do fortalecimento da moeda americana, traz desafios relacionados à insegurança diante de ataques terroristas, mudanças ante a possível saída do Reino Unido da Comunidade Europeia, alterações nos fluxos de viagens e outros variados temas que devem unir o setor de viagens e, ao mesmo tempo, trazer oportunidades de negócios para aqueles que rapidamente tiverem respostas.

Ficamos por aqui, há 30 dias dos Jogos Rio 2016 acompanhando as mudanças instantâneas e a capacidade de nosso setor de enfrentar os desafios de uma indústria em transformação, mas cada vez mais forte e resistente.

Jeanine Pires é Presidente do Conselho Consultivo da WTM Latin America, Diretora da Pires e Associados e ex-Presidente da EMBRATUR.

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