* Por Mellina Hernandes, Turismóloga e criadora do 4 Patas pelo Mundo
Sons, cheiros, gostos, tato, são algumas das sensações exploradas por um turista cego ao visitar um novo destino.
São mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, mas será que o setor turístico está preparado para atender esse público?
Assim como temos o Turismo de Negócios, de Aventura, de Experiência, também temos o Turismo Acessível, ainda pouco conhecido, mas que está se expandindo cada vez mais pelo Brasil e mundo.
E o que é Turismo Acessível?
O Turismo Acessível envolve a inclusão de pessoas com deficiência ou limitações físicas em atividades turísticas, promovendo fácil acesso à lugares e estabelecimentos.
Quando falamos em deficiências e limitações incluímos pessoas com dificuldades motoras, físicas, mentais, auditivas, visuais e ainda grávidas, idosos, pessoas obesas e com nanismo.
Lembro quando cursei Turismo em 2005, na época a questão do Turismo Acessível não foi abordada em nenhuma disciplina. Hoje o cenário é outro, o assunto vem sendo cada vez mais discutido nas faculdades, em diversas reuniões e eventos voltados para o setor turístico.
As pessoas com deficiência possuem o mesmo direito de frequentar os lugares que as pessoas sem deficiência. Assim como ter um atendimento e serviço de qualidade.
O Turismo Acessível é uma oportunidade de inclusão e traz grande valor econômico para os estabelecimentos.
A cidade de Socorro, interior de SP, é referência internacional no Turismo Acessível. Em 2017 recebeu o diploma “Destaque de Honra – Gestão Municipal”, sendo reconhecido pelos planejamentos de acessibilidade para turistas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Um grande case de sucesso é a rede hoteleira Parque dos Sonhos, que é referência em acessibilidade no turismo.
Segundo informado por eles, passaram de 152 pessoas com deficiência recebidas em 2005 para mais de 7.000 em 2019, isso somente em uma de suas 4 unidades, o Hotel Fazenda do Campo dos Sonhos.
Ao visitar qualquer Hotel da rede, o turista com deficiência possui acessibilidade tanto na hospedagem como nas atividades de aventura.
90% das acomodações são adaptadas.
Para os turistas com deficiência visual, além da estrutura arquitetônica, como piso tátil, mapa e cardápio em braile, possuem um atendimento diferenciado, tendo um funcionário dando todo suporte o que a pessoa precisar, auxiliando no restaurante e nas atividades oferecidas.
A inclusão promove o acesso a um nicho de clientes pouco explorado, fazendo assim a fidelização desses turistas e atraindo outras pessoas através de indicação, pois se são bem atendidos irão contar para amigos e familiares. Gerando a melhor forma de divulgação, o boca a boca.
Normalmente quando se fala em acessibilidade o mais comum é pensar em acessibilidade arquitetônica como rampas, barras, elevadores, piso tátil, banheiros e quartos acessíveis. Mas não podemos limitar a acessibilidade somente a isso, precisamos pensar também nas barreiras atitudinais, e ter pessoas treinadas a atender bem os turistas com deficiência, além de ter material turístico acessível.
Cresce cada vez mais os destinos preocupados em atender bem os turistas com deficiência.
Comparando minha primeira visita a WTM Latin America em 2017, notei que em 2022 um número maior de destinos estavam preocupados com a inclusão no Turismo, alguns retomando os projetos de acessibilidade e alguns já implementando, principalmente voltados para turistas com deficiência visual.
Para oferecer um bom atendimento turístico para turistas com deficiência visual é necessário ter maquete e piso tátil; audiodescrição; imagens em relevo; objetos para serem tocados, no caso de exposições e museus; colaboradores qualificados para guiar e passar as informações.
Adequar e capacitar os destinos, atrações turísticas, parques, hotéis, estabelecimentos, trazem um enorme ganho social. A interação e inclusão das pessoas com deficiência promove mais qualidade de vida e oportunidades iguais, que é um direito de todos.
O Brasil está avançando bastante quanto a isso, muitos ainda se limitam a acessibilidade voltada somente para as pessoas com cadeiras de rodas, mas cada vez mais as pessoas com deficiência visual estão sendo notadas e recebendo um atendimento de qualidade no turismo.
“A acessibilidade é um elemento central de qualquer política de turismo responsável e sustentável.” – Taleb Rifai, Secretário-Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT).
A acessibilidade não é um favor, é um direito!
As opiniões expressas neste texto são do autor e não refletem, necessariamente, a posição da WTM Latin America.