Por Paulo Salvador
Como membro do advisory board da WTM Latin America fui convidado a participar do Travel Forward em novembro. O evento ocorre em paralelo à WTM Londres e pretende inspirar participantes com tendências, inovação e showcases de tecnologia. Havia tempo que não via um evento com tantos núcleos de conteúdo e negócios ao mesmo tempo distintos mas complementares.
Ao longo de 2 dias eram 150 expositores (52 novatos) startups, pequenas, médias e grandes empresas de tecnologia. O espaço de exposição foi dividido em quatro núcleos: “Showcase e Competição de startups”, “Clinica de Consultoria” com experts auxiliando o trade na sua evolução tecnológica, “Showcase de produtos” facilitando expositores a explicar funcionalidades de suas soluções e finalmente o palco principal chamado “Keynote Theatre” com convidados e painelistas, CEOs, C-Levels e empreendedores da indústria.
A qualidade da seleção de painelistas me chamou atenção. Certo, eles estavam ali para compartilhar a visão de suas empresas e produtos mas pela senioridade dividiam suas inquietações pessoais quanto aos desafios que enfrentamos.
Os franceses tem uma expressão que adoro: “Fil Rouge”. Fio condutor. É uma locução que define o elemento recorrente ao longo de um evento. No caso das palestras do Travel Forward o fio condutor não é mais acesso à tecnologia mas sim a integração da experiência de viagens através da tecnologia.
Eu explico. Nossa indústria é extremamente fragmentada. Os sistemas tecnológicos vigentes são uma grande teia dividida entre: “legacy” ou herdados, inovadores e híbridos (capazes de fazer ponte com tudo que é legacy) e disruptivos (esses obrigam todos a seguirem seus standards). Um bom exemplo de sistema disruptivo é o WeChat na China que tem 1 bilhão de usuários. Quem quer vender viagens para chinês vai ter que se adaptar aos sistemas de pagamento WeChat Pay ou então está fora do negócio.
No mundo de hoje por mais que exista Inteligência Artificial, Realidade Aumentada, Chatbots e sofisticadas ferramentas de análise e estatística entre outros recursos o cliente continua condenado a ter sua jornada de viagem fragmentada em silos: o silo aéreo, o silo hoteleiro, o silo do Uber, o silo da busca no Google, o silo do restaurante e do teatro. Na experiência de viagem – entre um silo e outro – ainda não fomos capazes de eliminar o que chamamos de “traveller friction” ou stress/ruptura de um estado de fluidez a outro. A cada mudança de silo o viajante precisa dizer quem é e contar sua história.
Mas nem tudo está perdido. Vários palestrantes compartilharam visões e tendências mostrando que a infraestrutura digital crescente está eliminando esses gaps. Nuvens hibridas, bigdata analítico, internet das coisas e sistemas abertos de conectividade chamados APIs permitem cada vez mais que o CRM deixe de ser uma panaceia de silos e crie valor para os viajantes.
Eventos de conteúdo como o Travel Forward integrados a uma feira de negócios como a WTM London são componentes fundamentais para eliminarmos gaps de integração tecnológica. Eles mostram que o futuro já chegou, mas que ainda não está integrado. E que tem muita gente tentando juntar as partes.