Por Marília Borges, Pesquisadora Associada, Euromonitor International
O Brasil está passando atualmente por um forte ciclo recessivo, com índices de inflação altos, taxas de câmbio voláteis e redução do Produto Interno Bruto (PIB) – em 2015, a economia brasileira encolheu 3,8%, pior desempenho em um quarto de século. Essa situação econômica negativa, associada a instabilidades políticas, vem enchendo os brasileiros de dúvidas com relação ao futuro próximo. Apesar de a desvalorização do real ter novamente tornado o país um destino menos caro – e, portanto, mais atraente – para os turistas internacionais, observamos que o turismo no Brasil vive um período difícil tanto no segmento doméstico como no emissivo. Por conseguinte, o setor de turismo do país está com dificuldades para lidar não só com a situação macroeconômica desfavorável, mas também com a maior sensibilidade ao preço por parte dos consumidores, os quais estão repensando suas escolhas de viagem, de modo a lidar com a renda disponível mais restrita.
Adoção de opções digitais para fazer melhores negócios
Em busca de negócios menos caros, os brasileiros estão fazendo bom uso de suas milhas e até optando por viagens mais curtas. E não só isso: os consumidores estão buscando opções de hospedagem mais acessíveis, ao fazerem uso mais intensivo de plataformas peer-to-peer como Airbnb e HomeAway AlugueTemporada em viagens de lazer. O país tem um ótimo potencial para esses aluguéis particulares, dado o tamanho de sua população jovem e o crescimento contínuo do número de usuários da Internet, que atingiu 60% da população em 2015. A desordem econômica reforça esse potencial à medida que os anúncios nessas plataformas aumentam porque as pessoas estão buscando maneiras alternativas de ganhar dinheiro.
Ainda no campo digital, vale notar que o Brasil é líder latino-americano em vendas de viagens via Internet e por aparelhos móveis. As transações de varejo via Internet, por exemplo, atingiram R$ 17 bilhões em 2015 e, apesar da base relativamente grande, registrará uma taxa de crescimento anual composta de 8% (a preços de 2015) até 2020, o que representará a quinta taxa mais alta da América Latina. O aumento da porcentagem de domicílios com smartphones e acesso à Internet e o forte envolvimento dos brasileiros nas redes sociais serão fatores importantes a impulsionar esse desempenho. No entanto, os consumidores do país desconfiam das condições de segurança para fechar negócios online, o que continua a impedir que as vendas de viagens via Internet ganhem ainda mais espaço no Brasil.
A locação de carros pode passar por alguma consolidação
Embora segmentos específicos ainda consigam se orientar mesmo em condições econômicas difíceis, isso pode não ser válido para certos players do mercado. Nesse sentido, a situação macroeconômica adversa costuma tornar mais caro o endividamento de locadoras de carros pequenas e independentes. Assim, os players principais conseguem ganhar participação no mercado à custa dos pequenos, que eventualmente reduzem a frota ou até saem desse ramo.
Isso é particularmente digno de nota no Brasil, onde o setor de locação de carros é altamente fragmentado e os players pequenos e independentes constituem uma grande parcela (43%). Além de se beneficiarem de possíveis aquisições de empresas menores, os grandes players poderão observar um impulso nas vendas no Rio de Janeiro por ocasião das Olimpíadas. Por exemplo, a Localiza Rent A Car, maior locadora de carros do Brasil, é um dos patrocinadores oficiais do evento.
Será que os brasileiros deixarão de viajar?
Em termos gerais, quanto à maneira pela qual os brasileiros consomem turismo, é seguro dizer que eles já o colocaram em sua cesta de consumo. Contudo, como agora os orçamentos estão mais apertados, ocorreram algumas mudanças importantes, por exemplo, nos destinos e na duração das viagens. Outra guinada importante – que se acredita ter vindo para ficar – é o maior uso de alternativas mais baratas em serviços como hospedagem, por meio de plataformas peer-to-peer. Assim, apesar do pano de fundo econômico desafiador, não se prevê que os consumidores do Brasil deixem de viajar.
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